*Gilberto Moura – Especial para o Portal Quinari
São dias de leitura. São anos ouvindo. E buscando conhecer, mesmo assim, ainda me sinto pouco conhecedor, e espero não me sentir superior ou detentor de vasto conhecimento.
Caminhamos para as eleições estadual e nacional. O cenário é preocupante, pois há insatisfação por parte da população com o sistema democrático. Sistema esse que ouvimos falar e muitos fazem questão de lhe ignorar, vezes até esbravejando.
Todo o sistema tem suas falhas. Isso é fato. Todo governo tem suas limitações. E todo o poder pode engrandecer, perecer ou mesmo corromper o homem. Isso acontece, desde que o mundo tem sido mundo.
Os Estados que pretendem proteger seus cidadãos e defender seus interesses não podem mais cumprir suas promessas, visto que não têm mais os poderes necessários para isso. Porque “o espaço físico, geográfico continua sendo a casa da política, enquanto o capital e a informação habitam o ciberespaço, no qual o espaço físico é abolido ou neutralizado”, observa o sociólogo Bauman.
Bauman, parafraseando Richard Rorty, acrescentou: Enquanto o proletariado estiver distraído em seu próprio desespero com eventos fictícios criados pela imprensa, os superricos não tem nada a temer”.
Fato é que estamos diante de um cenário preocupante para a eleição presidencial. Confesso que fico me questionando o que leva a uma multidão desconhecer a realidade e a organização de seu país, ao ponto de ignorar avanços que a história mostra que levaram anos e anos de construção.
Bauman diz: “o estado democrático durante anos se ajustou à promessa e à responsabilidade de proteger e de dar bem-estar a qualquer coletivo contra a desgraça individual. As pessoas tinham sentido de pertinência e solidariedade”.
Eu chego a seguinte conclusão. Falta leitura e abertura para um debate social profundo nos ambientes escolares. Quando estudei a primeira série, tive a oportunidade de ter a matéria de estudos sociais, essa matéria levava a professora a ensinar um pouco sobre tudo. Depois no ensino médio tive filosofia e sociologia. Serviu para ajudar abrir a mente.
O fato é que não quero neste editorial dizer que aquelas pessoas que divergem do meu pensamento são embrutecidas ou mesmo estão erradas. A nossa intenção na verdade é mostrar que se a mente se abrir para o debate, é possível visualizar o sistema democrático de outro aspecto.
O entendimento que as coisas não mudam do dia para a noite pode ser observado no testemunho de Jesus. Veio ele para ser o salvador da humanidade, mesmo assim, nunca prometeu resolver todos os problemas sociais que já naquele momento afligiam o povo. O convite foi para sempre lhe seguir. E aqueles que lhe seguiam tiveram lutas.
“A salvação espiritual foi o primeiro bem público a ser privatizado nos tempos modernos, enquanto o arrependimento e a redenção foram as primeiras atividades ritualizadas, sincronizadas e coordenadas a serem desregulamentadas. Depois desses primeiros atos de privatização e desregulamentação, seguir o caminho da salvação era decisão que cabia ao cristão fiel”. Com essas palavras Bauman se refere à reforma religiosa, que fez de cada indivíduo um sacerdote e afrouxou o controle que o clero exercia sobre todos. O sociólogo lembra ainda que aquilo foi um arrombo que destruiu a jaula de ferro para que os crentes construíssem as gaiolas que quisessem.
Citado o exemplo maior de nossa vida, e exposto um pouco sobre o sistema democrático, tenho que cada ser humano precisa repensar seu valor, sua missão e como poderão ajudar a nação, da qual são partes e filhos.
Na opinião de Bauman, o conceito de interesse público se aplica a coisas e eventos de natureza coletiva, algo que não pode ser reivindicado como assunto privado nem mesmo ficar de posse exclusiva, pois afeta o interesse social. Essa lógica foi invertida, transformando o território e as emoções particulares em suposto “interesse público”, ou como explica o autor. “Tornar público o que quer que desperte ou possa despertar curiosidade virou o cerne da ideia de uma coisa ‘ser do interesse público’. E cuidar de exibir de forma atraente o que se divulga de modo a despertar curiosidade virou a principal medida do ‘bom serviço ao interesse público’.”
O país precisa mesmo se conhecer para decidir com responsabilidade e lealdade.